sábado, 15 de dezembro de 2007

Por trás das aparências

Nunca me senti tão bem por ter chegado em casa. Estava num aniversário de uma, digamos, socialite. Estavam lá eles. Todos disciplinados e muito bem educados,vestindo as mais exclusivas roupas com teus "sorrisos plásticos enfeitando rostos de pedra". Estive na presença do que eu não gostaria de ser.
Só conhecia a aniversariante de vista, embora o seu passado e presente seja do conhecimento de todos. Ela perdeu um filho ainda pequeno e tem outro metido a rebelde sem causa (basta informar que ele se revoltou com os pais porque ele ganhou um carro zero KM, enquanto teus amigos ganharam um semi-usado). Apesar de toda discrição da alta sociedade, eu ainda ouvi comentários de que era a primeira vez em anos que se via a aniversariante sorrir em tua própria festa. Todos elogiavam a decoração de seu apartamento. Entretanto, eu não conseguia enxergar tal beleza. É inegável afirmar que há muito conforto, embora eu não conseguia imaginar que ali poderia haver um laço de harmonia e amor familiar. Tudo parecia ironicamente perfeito e frio.

Como reparar em toda futilidade era entediante, só restava uma coisa a fazer: procurar algo para beber. Finalmente acho algo interessante na festa: uma garota com cabelos quase louro que adora jazz e que parecia estar odiando a festa. Claro que eu queria conhecê-la, mas não posso esquecer que sou o Patinho Feio e não um dos belos cisnes que ela deve estar acostumada a conhecer e sair.
Após perder as contas de quantos copos de coca-cola já havia consumido, me deparo com um par de peixes pendurado na enorme sala de estar. Eles tinham uma expressão melancólica ao extremo, mas ao observar mais ao redor vejo que este não era o único utensílio de decoração com aparência tristonha naquele lugar. Além de um quadro em que um palhaço chorava, tinha um outro em que um homem com feições tristes deitado sob um piano tocando algumas notas.
Eu já não estava me sentindo bem naquele lugar. Quando vi uma janela aberta, achei que ali estava minha única solução de escape.

- Oi! Você que é o Patinho?
- Sou sim. - eu a olhava.
- Prazer! Meu tio está te chamando para vocês irem.
- Ah, tá bom! Obrigado!
- Por nada! Até o próximo evento vazio! E quem sabe neste não podemos compartilhar nossa impaciência juntos?
- Seria legal. Tenho que ir. Até mais!


Na verdade, esse diálogo só existiu em minha mente. Mas quem sabe ele acontece quando eu voltar naquela Caverna das Sombras? Onde as paredes brancas e os móveis desenhados exclusivamente para eles tentam esconder muito mais que uma profunda tristeza.
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No fim de noite, Renato (esse Russo!) ainda me diz: [...] festa estranha com gente esquesita, eu não tô legal [...]
Estou pensando seriamente em trocar o nome do meu futuro possível filho de Arthur para Renato, pois eles sempre sabem de tudo!
Um viva aos Renato's!

3 comentários:

Kallyne Cristina disse...

Olá patinho, adorei esse texto pq foi mais ou menos o que senti nesse meu sabado tbm! "Festa estranha com gnt esquisita. Eu nao tou legal, nem aguento mais birita..." Adorei, apesar de não querer que isso te aconteça novamente... espero que no proximo sabado seu vc faça coisas com pessoas as quais vc possa compartilhar idéias... uauuauauauaaaah! Prazer em tê-lo por aqui, apareça sempre!!!

Beijo!

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Cara estranho disse...

Tanto glamour e tanta tristeza presentes em um só lugar.
Mesmo com toda a animação de uma festa não conseguiu derrubar a aparência triste do local.
Eu já não aguento mais algumas festas estranhas com pessoas esquistícimas que andei frequentando ultimamente [aí eu te pergunto: cadê seus amigos? eles com certeza não estavam lá né?]
Adorei o texto. Seu blog já é parada obrigatória pra mim de agora em diante.
Obrigado pelas visitas!

Abraços

david santos disse...

Passei para desejar-lhe um bom final de 2007 e um bom ano de 2008.

Aproveito para LHE pedir que participe na blogagem colectiva que se realiza amanhã, dia 17, em prol da menina Flávia